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O impacto do livro didático no processo pedagógico

Quando fazemos uma imagem mental de uma escola, ou de estudantes, não raro, acompanhando, vem o livro didático. E ele acabou se tornando tão protagonista das histórias escolares que, pouco se pensa mais profundamente sobre eles. 

O fato é que, eles apareceram em algum momento para resolver algum problema – foram uma inovação. Hoje, os processos de trabalho na escola contam com sua constante revisão de conteúdo, design e até os lugares além de suas páginas aos quais podem nos levar. 

Além de um instrumento de ensino e aprendizagem, o livro orienta e guia a sistematização de conteúdos e pode ser um parceiro valioso na ampliação das competências e habilidades acadêmicas dos estudantes. Também é possível pensar o quanto o uso de livros didáticos se transforma em registro e portfólio dos aprendizados de jovens e crianças. 

E embora ele nem sempre estivesse dentro do ambiente escolar, desde que apareceu, tem sido reinventado ano a ano, política pública a política pública, à luz dos conhecimentos produzidos pela humanidade.

Onde tudo começou?

Primeiro como suporte de textos para registro à posteridade, acredita-se que a escrita e a literatura se tornaram parte das humanidades entre os séculos IV e VII a.C. e seu registro foi feito em diversos suportes, como argila, pedra ou pergaminhos. 

A ideia de livro, como é conhecido hoje, pode ser definida como “um conjunto de folhas de papel impressas presas juntas a uma capa; um longo trabalho escrito” – Mirriam-Webster Dictionary (tradução livre minha). Ainda, para que se configure uma obra, diferenciando-se de registros e documentos, um livro precisa ter uma visão de mundo.

Logo, existem diferentes exemplos de livros em diferentes tempos históricos. Da Bíblia de Gutemberg, o primeiro livro impresso no Ocidente em 1454. No entanto, no mundo, existem diversos outros exemplos, como o Códex de Madri, com cerca de 500 anos ou o Livro de Ouro Etrusco, com idade aproximada de 2700 anos.

O livro didático, no entanto, se encontra em uma categoria um pouco mais nova, pois seu objetivo é pedagógico, ou seja, de apoiar o ensino de conteúdos da produção intelectual da humanidade. 

Ele surge como apoio aos livros clássicos, principalmente, no cerne das ciências, história e alfabetização, geralmente produzidos por educadores – autores. Em 1938, com aval do governo Getúlio Vargas, é instituída a Comissão Nacional do Livro Didático, buscando universalizar o uso desse instrumento de ensino.

E a história continua…

Embora não se trate de um instrumento perfeito, contendo todas as respostas ou mesmo informações sobre os assuntos que aborda, o livro didático passa a ter um impacto de base no processo de ensino aprendizagem. 

Ele se porta como um guia para o trabalho com diferentes objetos do conhecimento e os distribui de forma que sejam adequados às faixas-etárias dos estudantes.

De acordo com o artigo “O Livro Didático de História Hoje: Um Panorama a partir do PNLD”, de MIRANDA & LUCA, 2004, vemos que existem diferentes entendimentos e escritas a respeito do instrumento:

Alain Choppin bem assinalou que os livros didáticos não são somente ferramentas pedagógicas, mas também suportes de seleções culturais variáveis, verdades a serem transmitidas às gerações mais jovens, além de meios de comunicação cuja eficácia repousa na importância de suas formas de difusão. Nessa perspectiva, os livros, para além de se constituírem em vetores ideológicos, são fontes abundantes, diversificadas e, ao mesmo tempo, completas, visto que cada obra constitui uma unidade própria e coerente, com princípio, meio e fim. Dois aspectos particulares distintos, porém articulados, merecem ser destacados quando se intenta radiografar os resultados da avaliação do livro didático: a diversidade dessa fonte e a lógica mercadológica que orienta sua produção

A discussão sobre o uso do livro ou a produção independente de materiais pelas escolas e professores revela-se interessante tanto no tocante aos recortes que são necessários para o ensino dos objetos de conhecimento quanto pelas linhas pedagógicas adotadas pelas diferentes escolas em território nacional. 

A variável “tempo” também conta como recurso indispensável para a reunião, planejamento e escrita das atividades que passam por esse tipo de atividade. O cenário brasileiro de uso de livros e recursos didáticos é muito variado, demonstrando, no entanto, que utilizar esse instrumento ajuda os professores a manterem uma linha pedagógica e um fazer sistematizado em suas aulas.

Para que e para quem?

Pensar o livro, como instrumento pedagógico, é pensar nas práticas pedagógicas que se alinham, renovam e ganham inovações com o tempo. Do tempo no qual livros eram difíceis de obter ou no qual grande parte da população não tinha acesso a eles, por não serem alfabetizadas, o livro didático ganha seu espaço e hoje, inclusive, conta com um programa do Ministério da Educação, o PNLD (Plano Nacional do Livro Didático), buscando garantir o acesso e uma educação pública e de qualidade para todos.

No entanto, essa inovação, como todas, está sujeita ao tempo. Não é possível utilizar os livros didáticos de quarenta anos atrás. Tanto pela progressão da Ciência, por exemplo, quanto pela modernização dos processos de ensino aprendizagem. 

Logo, os materiais utilizados nas escolas se prestam a muito mais do que um repositório de conceitos. A possiblidade de aplicar diferentes atividades e abordagens, como Aprendizagem Ativa, ou mesmo utilizar o livro de forma não linear, traz aos professores e comunidades escolares a chance de customizar o aprendizado e sistematização para grupos cada vez mais heterogêneos de estudantes.

Por fim, “(…) pode-se dizer que, nessas obras, considera-se genericamente uma base de saberes prévios dos alunos como ponto de partida para uma aprendizagem significativa. As obras constituídas sob tal orientação dialogam com tais referências a partir de uma postura que valoriza a problematização enquanto forma de estabelecer relações entre passado e presente. Busca-se, de modo geral, promover a aquisição gradual dos conceitos que, nesse caso, se sobrepõem às definições mecânicas e, coerentemente com tal opção, os momentos de introdução das unidades, as atividades e exercícios são propostos com a intenção de propiciar circunstâncias dialógicas e de construção conceitual”. – Miranda & Luca, O Livro Didático de História Hoje: Um Panorama a partir do PNLD, 2005.

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